XILOGRAFIA E XEROGRAFIA
STPM JOTA MARIA - MOSSORÓ-RN, 18 DE NOVEMBRO DE 2009
RN AQUI
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
ARTE DA XILOGRAVURA FEITA PELO MOSSOROENSE JOÃO DA ESCÓSSIA
JOÃO DA ESCÓSSIA, PRIMEIRO XILÓGRAFO POTIGUAR
Nascido em 1873, era jornalista, xilógrafo,
"herdeiro do espírito combatente de seu
genitor - Jeremias da Rocha Nogueira". Faleceu
em 14 de dezembro de 1919. Dirigiu
o jornal O Mossoroense de 1902 até sua
morte.
Na segunda conferência do I Ciclo de
Conferências e Estudos Mossoroenses, em
agosto de 1958, o jornalista e escritor Jaime
Hipólito Dantas assim se expressou:
"De João da Escóssia, pode-se dizer, primeiro
que tudo, que se tratava de um artista
de primeira ordem. Era um admirável xilógrafo,
com uma capacidade simplesmente
extraordinária para retratar, em madeira,
com o auxílio de um mero canivete, figuras
do seu tempo ou de outras épocas, como ainda
objetos, fatos ou alegrias para a ilustração
de notícias ou reportagens.
A arte do xilógrafo João da Escóssia estaria
a merecer um estudo à parte por um
entendido na matéria. Como se explicar que
um homem do interior, sem qualquer estudo
especializado, haja chegado a dominar
com tal perfeição a arte, não tão fácil,
da xilogravura? Possuía o artista o senso
da observação dos detalhes mais diminutos.
Parecia ser ágil, sutil e penetrante.
Uma vocação, sem dúvida, de puro retratista,
que a província, na pequenez das suas
proporções, no incolor da sua vida no princípio
do século, não pode devidamente valorizar".
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
ARTIGO DE CID AUGUSTO DA ESCOSSIA - XILÓGRAFO JOÃO DA ESCÓSSIA
A xilogravura como ilustração do texto jornalístico: uma análise do trabalho
de João da Escóssia Nogueira no jornal “O Mossoroense”, de 1902 a 1906
Cid Augusto da Escóssia Rosado
Aluno do mestrado em Estudos da Linguagem da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
1. Introdução
O jornalista João da Escóssia Nogueira produziu em xilogravura, no início do século XX, as ilustrações que consolidaram o espaço da imagem na imprensa do Estado do Rio Grande do Norte. Em 1901, com o rótulo de “Humorístico e ilustrado”, ele fundou o jornal O Echo, que no ano seguinte passou a se chamar O Mossoroense, retomando o título do periódico criado pelo pai dele, Jeremias da Rocha Nogueira, aos 17 de outubro de 1872. Até 1906, João da Escóssia produziu charges, caricaturas, retratos e ilustrações publicitárias, seguindo tendências do Centro-Sul. Os traços delgados e o efeito com a sombra produzindo nuanças enriquecedoras da imagem são características da obra desse artista que, apesar de sua relevante colaboração para o desenvolvimento do jornalismo norte-rio-grandense, ainda não conquistou o espaço merecido na pesquisa da comunicação social.
2. Metodologia
Utilizando o método histórico, que “consiste na investigação de fatos e acontecimentos ocorridos no passado para se verificar possíveis projeções de sua influência na sociedade contemporânea” (FACHIN, 2003: 38), buscamos demonstrar a importância de João da Escóssia na consolidação da imagem na imprensa do Rio Grande do Norte.
A pesquisa cumpriu as seguintes etapas: escolha e análise das referências bibliográficas, digitalização dos exemplares de jornal a serem estudados, consulta na Internet, a xilogravuristas e a estudiosos no assunto, seleção das xilogravuras e redação do texto.
Para ampliar a compreensão sobre o tema, dividimos o trabalho em duas partes: primeiro, situamos o leitor sobre o que é xilogravura (conceito, história e técnicas) e, em seguida, passamos às considerações sobre a vida e a obra de João da Escóssia.
3. Noção etimológica
Xilo vem do grego xýlon e significa madeira, tronco. No século XIX, surgiu a palavra xilografia, do francês xylographie que, por sua vez, deriva-se do grego xylographéo, escrito em madeira ou sobre madeira (Cf. CUNHA, 1997: 833). O termo xilogravura é catalogado apenas no século XX, como sendo a arte de se fazer gravuras em madeira ou a impressão obtida por meio dessa técnica.
4. Origem da xilogravura
A invenção da xilogravura é atribuída aos chineses, que a utilizavam para imprimir ideogramas: “Evoluiu-se, então, para a escrita fonética e, posteriormente, para a criação de alfabetos, onde cada símbolo representava um som. Os chineses, porém, não ultrapassaram a fase dos ideogramas" (Herskovits, 1986: 89).
Antonio Costella reporta-se a historiadores que se referem ao uso da xilogravura, no mesmo período dos chineses, no Japão, na Índia, na Pérsia e na América Pré-colombiana (Cf. COSTELLA, 1984: 35).
Na Europa, conforme Herskovits (1986), a xilogravura surgiu no século XV para imprimir imagens de santos e cartas de baralho. Escultores e marceneiros preparavam as matrizes para impressão. Nesse período, os europeus descobriram os livros tabulares, pela produção dos quais se notabilizaram Alemanha, Bélgica e Holanda.
Em meados do século XVI, a xilogravura entra em decadência na Europa, passando a ser utilizada em publicações de caráter popular, como aconteceu no Brasil, onde a sua principal função ficou sendo ilustrar capas de cordel.
A imprensa levou a xilogravura para os países americanos de língua espanhola. Os colonizadores, que em 1539 montaram uma tipografia na Cidade do México, desejavam, por meio dessa arte, transmitir sua cultura ao povo da colônia.
5. A xilogravura no Brasil
No Brasil há duas vertentes da xilogravura, a indígena e a européia. O pintor italiano Guido Boggiani, em viagem a Mato Grosso, em 1892, constatou que os nativos entalhavam figuras em pedaços de madeira e, com estes, carimbavam os próprios corpos (Cf. COSTELLA, 1984: 83). Pode ser, no entanto, que os indígenas não a tenham desenvolvido, mas sim aprendido a técnica com missionários portugueses, no século XVII.
As primeiras impressões de origem européia, em território brasileiro, foram feitas em Recife-PE, por volta de 1634 a 1640, durante a dominação holandesa (Cf. Hallewell, 1985: 10-12 e 549), e no Rio de Janeiro-RJ, por um português que imprimiu folhetos, sendo impedido de prosseguir o trabalho por ordem da Coroa lusitana.
A tipografia e a xilogravura só voltaram a ser utilizadas no Brasil, de modo oficial, a partir de 1808, com a chegada da Família Real e a instalação da Imprensa Régia, do Arquivo Militar e do Collegio das Fábricas, no Rio de Janeiro.
Há cultores da xilo artística, contudo a xilogravura continua viva no Brasil graças à literatura de cordel, que também chegou ao País pelas mãos dos colonizadores portugueses.
O uso da xilogravura como capa de folheto é recente. Os primeiros exemplares conhecidos são do fim do século XIX, embora seja interessante lembrar que a Imprensa Régia imprimiu, em 1815, várias histórias populares, ilustradas com toscas xilogravuras na capa, que até hoje são repetidas como clássicos do cordel, como é o caso da Princesa Magalona (Herskovits, 1986: 141).
Em O que é Literatura Popular, Joseph Luyten afirma: “O início da xilogravura popular na literatura de cordel se deve, sobretudo, à pobreza dos poetas e editores em encontrar clichês de retícula ou outros recursos gráficos para a ilustração das obras” (Luyten, 1983: 257).
6. Confecção da xilogravura
Para se fazer uma xilogravura, o primeiro passo é a escolha da madeira e do estilo em que ela será cortada para confecção das matrizes. Os gravadores preferem espécies que resistam a um grande número de impressões e, ao mesmo tempo, sejam macias para o entalhamento. A mais popular é a imburana (ou umburana).
Há duas técnicas de corte dos troncos de árvore para produção de matrizes: ao fio e ao topo. Naquela o tronco é cortado paralelamente ao veio, gerando tábuas, e nesta o corte é feito de modo transversal, produzindo discos de madeira.
Cortada em blocos, a madeira é lixada. Os blocos geralmente têm dois centímetros de espessura, altura de um tipo móvel, para que se encaixem nas impressoras tipográficas. Depois do polimento, a matriz está pronta para ser talhada. Alguns fazem o desenho no papel e marcam a madeira a fim de cortá-la a partir do esboço.
Vencida mais essa etapa, é chegada a hora do tintamento. O xilógrafo passa tinta sobre a matriz com um rolo e a imprime, como se fosse um carimbo.
7. João da Escóssia e a xilogravura no O Mossoroense
João da Escóssia Nogueira, primeiro Escóssia de Mossoró, era o terceiro filho de Jeremias da Rocha Nogueira e Izabel Benigna da Cunha Viana que, antes dele, tiveram Cecília e Agar, vindo esta a morrer ainda criança. Cecília viveu sempre junto ao irmão e faleceu solteira com pouco mais de 30 anos de idade. A referência a “Escóssia de Mossoró” deve-se ao fato de nos Estados do Rio de Janeiro e do Ceará existirem pessoas com o mesmo sobrenome, mas sem parentesco com as homônimas mossoroenses (Cf. AUGUSTO, 2000: p 279).
Na época do nascimento de João da Escóssia, ocorrido aos 27 de maio de 1873, fervia o litígio entre a Igreja Católica e a Maçonaria, guerra que em Mossoró veio a se acirrar menos de um mês depois com a instalação da Loja Maçônica 24 de Junho. Os pedreiros livres, como são chamados os maçons, passaram a sofrer acusações e agressões diárias por parte do vigário Antonio Joaquim, que também era um dos chefes políticos locais. Jeremias, homem livre e de bons costumes, respondia com severidade no jornal O Mossoroense, de sua propriedade, em cujo frontispício, dos 26 de abril aos 8 de novembro de 1873, constou a epígrafe: “Semanario, político, commercial, noticiozo e anti jesuítico”.
Quando nasceu o filho de Jeremias, que possivelmente se chamaria João Batista da Rocha Nogueira, Antonio Joaquim não aceitou batizá-lo. Motivo alegado: o pai e o padrinho Targino Nogueira de Lucena eram maçons. Assim, o pai levou o rebento para a Loja Maçônica 24 de Junho, onde o batizaram simbolicamente com o nome daquele que acreditavam ser o patrono da Ordem Escocesa Antiga e Aceita, São João da Escócia. Daí, João da Escóssia Nogueira.
João da Escóssia foi jornalista, xilógrafo, chargista, caricaturista, tipógrafo, artista plástico, desenhista e cenarista de teatro. Ingressou na 24 de Junho como Lowton e depois se tornou maçom. Fundou o jornal O Echo, em 1901. Reabriu em 1902 o jornal fundado pelo pai dele, com uma inovação: as páginas agora eram ilustradas com gravuras, cujas matrizes – xilogravuras – o próprio João talhava em madeira, utilizando um simples canivete.
A respeito dessa que foi a segunda fase do O Mossoroense, ressurgido como “Periodico, humoristico e Illustrado”(sic!), sob o comando de João da Escóssia, com o apoio dos redatores Antonio Gomes e Alfredo Mello, quem escreve é Vingt-un:
Em 1901, o velho e glorioso órgão de nossa imprensa ressurgiu sob a capa d’O Eco, jornal humorístico, durando até 1902.
Marca este último ano, o início da 2ª fase d’O Mossoroense, aos 12 de julho. São seus novos redatores o coronel Antônio Gomes de Arruda Barreto e Alfredo de Souza Melo, filho de José Damião. Gerencia-o, com muita competência, o redator-xilógrafo João da Escóssia, que também é seu proprietário. Traz agora o intuito de prestar ‘serviços às letras, às artes, às ciências, às indústrias e ao desenvolvimento de todos os ramos da atividade humana’. Nesta segunda fase era quinzenal, passando-se em 1905 a publicar-se três vezes ao mês. Imprimia-o a Aurora Escossesa, depois Atelier Escóssia. Mais tarde seria semanal e em sua última etapa, bissemanal, saindo às quartas e aos domingos (ROSADO, 1940: 114).
O jornalista Lauro da Escóssia, filho de João da Escóssia, também atesta a existência de O Echo, mas fornece uma data diferente daquela apresentada por Vingt-un para sua fundação:
Aperfeiçoando-se na arte de xilogravura, João da Escóssia realizou o milagre da restauração da imprensa em Mossoró. Em princípio de 1900, além de engendrar e fazer funcionar com êxito um prelo de madeira, mandou à circulação ‘O Echo’, jornal de pequenas dimensões em evidência até princípios do ano seguinte, trazendo em seus seis números, ilustrações com clichês de madeira, desde o cabeçalho humorístico até cenas do cotidiano (ESCÓSSIA, 1991: 6).
Luiz Fernandes cita um texto, segundo ele transcrito do programa do O Mossoroense, no intuito de comprovar o “parentesco” entre esse e O Echo:
Assim se denominou o primeiro jornal que, há trinta anos, mais ou menos, aqui saiu à publicidade, sendo seu proprietário e um dos redatores Jeremias da Rocha Nogueira, pai de João da Escóssia, redator-xilógrafo e também proprietário deste.
O primeiro O Mossoroense, por isso que era um jornal político, teve que imiscuir-se em lutas, criadas e alimentadas pelo acanhamento das idéias de então e predominante exagero das facções.
O segundo, sucessor do Eco, cuja publicidade parou, há poucos dias, para dar lugar a este jornal, apresenta-se como um jornal periódico, humorístico e ilustrado, e tem intuito de prestar, como puder, serviços às letras, às artes, às ciências, às indústrias e ao desenvolvimento de todos os ramos da atividade humana (FERNANDES, 1998: 134).
A reabertura do O Mossoroense traz a marca do segundo período da imprensa brasileira, que durou de 1880 a 1910 (Cf. BAHIA, 1990: 105). O jornal passa a ganhar dimensão de empresa e a política partidária não é mais a sua mola propulsora. Não há a agressividade dos primeiros anos. É a época em que os processos de composição e impressão passam a ser aprimorados, a caricatura ganha espaço e cresce a consciência de que o objetivo do jornal é a notícia.
João da Escóssia esculpia xilogravuras, com madeira cortada ao fio, para ilustrar o jornal fundado pelo pai dele, sendo alguns desenhos copiados ou inspirados em ilustrações publicadas em revistas do Sul do Brasil. Chama a atenção dos especialistas, a fineza do traço nos trabalhos desse artista que produzia xilogravuras com base em temas diversos: paisagens, caricaturas, charges satirizando ocorrências políticas, cenas históricas e cotidianas. Ele também fazia carimbos e rótulos para medicamentos e ilustrava propagandas do jornal.
Na segunda palestra do I Ciclo de Conferências e Estudos Mossoroenses, em agosto de 1958, o jornalista e escritor Jaime Hipólito Dantas assim se expressou:
De João da Escóssia, pode-se dizer, primeiro que tudo, que se tratava de um artista de primeira ordem. Era um admirável xilógrafo, com uma capacidade simplesmente extraordinária para retratar, em madeira, com o auxílio de um mero canivete, figuras do seu tempo ou de outras épocas, como ainda objetos, fatos ou alegrias para a ilustração de notícias ou reportagens.
A arte do xilógrafo João da Escóssia estaria a merecer um estudo à parte por um entendido na matéria. Como se explicar que um homem do interior, sem qualquer estudo especializado, haja chegado a dominar com tal perfeição a arte, não tão fácil, da xilogravura? Possuía o artista o senso da observação dos detalhes mais diminutos. Parecia ser ágil, sutil e penetrante. Uma vocação, sem dúvida, de puro retratista, que a província, na pequenez das suas proporções, no incolor da sua vida no princípio do século, não pode devidamente valorizar (DANTAS, 1958: 33).
Na antologia Literatura de Cordel, organizada por José de Ribamar Lopes e publicada pelo Banco do Nordeste, é reconhecido o pioneirismo de João da Escóssia que, na região nordestina, segundo Ribamar, antecipou-se até aos ilustradores de capas de folhetos de cordel:
“Qualquer esforço sério de pesquisa não pode ignorar que na primeira década deste século, quando os primeiros romances em versos eram editados sistematicamente sem ilustrações, por Leandro Gomes de Barros, um jornal do interior do Rio Grande do Norte, O Mossoroense, já utilizava a xilogravura para destacar as notícias, a publicidade ou os artigos assinados mais importantes de sua edição. As gravuras publicadas rotineiramente em O Mossoroense, um dos três mais antigos jornais em circulação no Brasil, eram talhadas pelo próprio diretor e proprietário, João da Escóssia, que se dedicou a esse trabalho no período que vai de 1902 até sua morte, no ano de 1919” (LOPES, 1994: 61).
A pesquisadora Mariza Araújo também afirma que Escóssia antecipou-se aos ilustradores de capas de cordel, com as xilogravuras publicadas no O Mossoroense no início do século XX: “No início do século XX, o jornal O Mossoroense, do Rio Grande do Norte, foi o primeiro periódico brasileiro a usar a xilogravura, para ilustrar novelas, propagandas e artigos, passando depois para os folhetos de cordel” (ARAÚJO, 200: 35).
Sob o título A Xilogravura Potiguar, o gravador Aucides Sales, especialista em Teoria das Artes Plásticas pela Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), afirma que em 1889, nas primeiras edições do A República, foram publicadas charges que podem ter sido feitas em xilogravuras, mas admite que, devido à falta de informações sobre a técnica e a autoria dos trabalhos, a primazia fica com João da Escóssia, no O Echo (Cf. SALES, 1999: 1-4).
Consultando o acervo do A República disponível no Instituto Histórico e Geográfico do RN, encontramos algumas ilustrações, possivelmente gravadas em metal, como a de Pedro Velho, a de uma casa (no anúncio da venda de uma casa no município de Ceará Mirim) e de instrumentos musicais na propaganda do “Grande concerto vocal e instrumental”, no salão da Intendência natalense (Cf. A República, 1889: nº 1, p. 3, e nº 47, pp. 3 e 4).
Sales afirma também que xilógrafos anônimos ajudaram a ilustrar O Mossoroense. O autor de A Xilogravura Potiguar aponta 1906 como o ano em que, a partir de uma reforma gráfica, o jornal deixou de circular ilustrado. Para Lauro da Escóssia, “Todos os números de O Mossoroense circulados entre 1902 a 1908, aproximadamente, atestam o valor da arte e seu executor” (ESCÓSSIA, 1991:10).
Um dos xilogravuristas que teriam ajudado a João da Escóssia chama-se Francisco Meneleu e reside em Fortaleza (Cf. SALES, 1999: 1). Vale salientar que, posteriormente, Sales verificou, pela idade, que Meneleu não poderia ter contribuído com João da Escóssia.
Na região Nordeste, além do controverso caso do A República, outra referência que encontramos acerca de um jornal ilustrado com xilografia antes do O Mossoroense é feita pelo Barão de Studart. Segundo ele, O Cancão, impresso em Baturité-CE, circulou em 1891 com caricaturas xilográficas abertas em cajazeira (Cf. CARVALHO, s/a: 10).
Dezenas de xilogravuras do O Mossoroense acabaram destruídas. Apenas algumas foram conservadas, copiadas e colecionadas em dois álbuns, um feito por Lauro da Escóssia Filho e outro por Maria Lúcia da Escóssia, netos de João da Escóssia.
Segundo o pesquisador Anchieta Fernandes, João da Escóssia foi o primeiro caricaturista do Rio Grande do Norte. Diz ele:
João da Escóssia, precursor - iniciamos mesmo com o homem que, até provas em contrário, pode ser considerado o introdutor do gênero caricatura na imprensa do Estado: João da Escóssia Nogueira (...). Com o auxílio de um simples canivete perfurava e rasgava pedaços de madeira (cajazeiras, preferencialmente), onde punha em relevo os traços dos seus desenhos e caricaturas. Seu pioneirismo, aliás, já vinha de antes, do ano de FIGURA 8 – xilogravura com propaganda de João da Escóssia. (Foto: Luciano Léllys).
1901, quando fez circular o primeiro órgão humorístico ilustrado da zona oeste, o jornal o “Echo”, que imprimia num pequeno prelo que fabricara.
...
Do ponto de vista estético, uma obra classificável, no mínimo, como correta. Descontadas as influências de estilo dos caricaturistas que eram seus contemporâneos, a sua técnica tinha um virtuosismo próprio, aproveitada admiravelmente para desenhos clássicos ou caricaturados, cuidando de colocar os detalhes necessários a retratar o facies urbano ou sócio-antropomorfo da Mossoró daquele tempo. E os seus trabalhos de xilógrafo lembravam zincografia. Plenas de movimento e plasticidade, suas figuras, seus personagens em caricaturas ou em retratos sérios (não-caricaturados, ou o monumento da Estátua da Liberdade, ou as pracinhas, ou os campos do sertão, ou os túmulos barrocos dos cemitérios imaginários - tudo sugeria a qualidade gráfica de um artista que lia e colecionava revistas como O Malho, Careta, Fon-Fon, Ilustração Brasileira, entre outras (ESCÓSSIA, 1991: 9).
João foi um homem preocupado com o futuro intelectual das novas gerações. Em 1901, inscreveu-se junto a outros cidadãos para prestar auxílio ao Colégio Sete de Setembro, fundado aos 7 de setembro de 1900 pelo professor Antônio Gomes de Arruda Barreto, que transferiu sua escola da Paraíba para Mossoró a convite do farmacêutico Jerônimo Rosado. Escóssia era, no dizer do próprio Antônio Gomes, “... amador extremo da instrução, por cujo progresso grandemente se empenha” (BARRETO, 1982: 12).
Casou-se com Noemi Dulcila de Souza, posteriormente Noemi da Escóssia, com quem teve 12 filhos. Ele faleceu aos 14 de dezembro de 1919. Além de patrono de uma rua no bairro Nova Betânia, em Mossoró, o seu nome aparece no frontispício de um dos templos maçônicos da cidade, a Loja João da Escóssia, fundada aos 15 de maio de 1967, por um grupo de 13 obreiros oriundos do quadro da Loja 24 de Junho.
Quando morreu, João da Escóssia já usava cadeira de rodas há cerca de 9 anos, depois de um início de paralisia. Chegou a viajar ao Rio de Janeiro para tratamento na clínica do Dr. Henrique Roxo. Também lhe eram freqüentes inchaços e fortes dores na mão direita, justamente a que imprimia força no canivete para fazer as xilogravuras.
8. Referências bibliográficas
A República. Natal, n° 1, 1°.7.1889, p.3.
____________. Natal, n° 16, 14.10.1889, p.4.
____________. Natal, n° 47, 2.5.1889, p.4.
ARAÚJO, Mariza da Silva. O encontro com a mulher de mil faces ou imagens da mulher na literatura de cordel. 2000. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA), Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
ARNS, Paulo Evaristo. Santos e Heróis do Povo. São Paulo: Paulinas, 1986.
AUGUSTO, Cid. Escóssia. Mossoró: Coleção Mossoroense, 2000.
BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica – história da imprensa brasileira. V.1. São Paulo: Ática, 1990.
BARRETO, Antônio Gomes de Arruda (org.). Subsídios para a História. Mossoró: Coleção Mossoroense, 1982.
BILAC, Olavo. Vossa Insolência. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
CAMINO, Rizzardo da. Simbolismo do Segundo Grau – ‘Companheiro’. Rio de Janeiro: Aurora, 2. ed.
CARVALHO, Gilmar de. Desenho Gráfico Popular. São Paulo: IEB.
COSTELLA, Antonio. Introdução à Gravura e História da Xilogravura. Campos do Jordão: Mantiqueira, 1984.
CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
DANTAS, Jaime Hipólito. A Imprensa em Mossoró. Mossoró: Editora Comercial S/A, 1958.
ESCÓSSIA, Lauro da. As dez gerações da família Cambôa. Mossoró: Coleção Mossoroense, 1978.
____________. A arte admirável de João da Escóssia. Mossoró: Coleção Mossoroense, 1991.
FACHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia. São Paulo: Saraiva, 2003.
FERNANDES, Luiz. A Imprensa Periódica no Rio Grande do Norte (de 1832 a 1908). Natal: FJA/Sebo Vermelho, 1998.
HALLEWELL, Laurence. O livro do Brasil (sua história). São Paulo: Edusp, 1985.
HESKOVITS, Anico. Xilogravura – arte e técnica. Porto Alegre: Thê!, 1986.
LOPES, José de Ribamar (org.). Literatura de Cordel. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 1994.
LUYTEN, Joseph M. O que é Literatura Popular. São Paulo: Brasiliense, 1983.
O Mossoroense. Mossoró, 17.10.1972, p. 10.
ROSADO, Vingt-un. Mossoró. Rio de Janeiro: Pongetti, 1940.
SALES, Aucides. A Xilogravura Potiguar. Galante. Natal, nº 2, p. 1 – 4: Scriptorin Candinha Bezerra/Fundação Hélio Galvão, 1999.
TÁVORA, Araken. Pedro II através da caricatura. Rio de Janeiro: Bloch, 1975.Arquivo do link XILOGRAFIA& XEROGRAFIA
Quem sou eu
- Jullyetth Bezerra
- Marilia Jullyetth Bezerra das Chagas, natural de Apodi-RN, nascida a XXIX - XI - MXM, filha de José Maria das Chagas e de Maria Eliete Bezerra das Chagas, com dois irmãos: JOTAEMESHON WHAKYSHON e JOTA JÚNIOR. ja residi nas seguintes cidades: FELIPE GUERRA, ITAÚ, RODOLFO FERNANDES, GOVERNADOR DIX-SEPT ROSADO e atual na cidade de Apodi. Minha primeira escola foi a Creche Municipal de Rodolfo Fernandes, em 1985, posteriormente estudei em Governador Dix-sept Rosado, na no CAIC de Apodi, Escola Estadual Ferreira Pinto em Apodi, na Escola Municipal Lourdes Mota. Conclui o ensino Médio na Escola Estadual Professor Antonio Dantas, em Apodi. No dia 4 de abril comecei o Ensino Superior, no Campus da Universidade Fderal do Rio Grande do Norte, no Campus Central, no curso de Ciências Econômicas. Gosto de estudar e de escrever. Amo a minha querida terra Apodi, porém, existem muitas coisas erradas em nossa cidade, e parece-me que quase ninguém toma a iniciativa de coibir tais erros. Quem perde é a população.